Barroco em Minas Gerais
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Sobre a real origem da palavra “barroco” não há um consenso entre os historiadores, isto é, há mais de uma hipótese acerca de sua criação. Assim, a origem do barroco pode ser a partir:
- do idioma grego, mais precisamente da palavra “baros”, que significa “pesado”;
- do termo italiano “barochio”, que, em florentino (um dialeto italiano), indica “fraude” ou “engano”;
- da própria língua portuguesa, com influência da palavra em latim “verruca”, significando “verruga” ou “irregular”.
Dessa forma, mesmo não sabendo da sua real procedência, o dicionário português, desde o século XVII, define o significado da palavra barroco como sendo uma pérola caracterizada pelo seu formato irregular.
O que foi o barroco?
Criado na Itália, por volta do século XVI e, posteriormente, espalhando-se pela Europa e pelo mundo, o barroco foi um estilo de movimento artístico. Influenciando primeiramente as artes plásticas, o barroco também teve forte tendência na literatura, na arquitetura, na música e no teatro. A cultura artística mundial sofreu influências barrocas até o século XVIII, sendo que, durante esse período, basicamente tudo o que era produzido de relevante no campo da arte seguia as tendências e os conceitos de tal estilo.
Contexto histórico do barroco
O século XVI foi marcado, historicamente, pela crise dos valores Renascentistas, uma época em que a população questionava os valores cultuados pela Igreja Católica. Com o aparecimento de revoltas religiosas, — sendo a Reforma Protestante de Martin Lutero a principal delas — e, consequentemente, a perda de fiéis do catolicismo, a Igreja Católica viu-se obrigada a retomar o seu poder. Nesse contexto, surge a Contrarreforma, um movimento católico de resgate às ideias teocêntricas, com o intuito principal de frear a perda de seus fiéis, majoritariamente os que pertenciam à classe burguesa. Inserido nesse cenário, o barroco foi um movimento ensaiado pela Igreja Católica que visava difundir os ensinamentos religiosos por meio da arte. A partir de então, o barroco europeu se desenvolveu como uma arte religiosa genuína do catolicismo, proporcionado a construção de grandes catedrais, igrejas, palácios, capelas e esculturas de santos.
Características do barroco
Como descrito acima, esse movimento ditou tendências nas mais variadas formas de expressão artística, sendo caracterizado, essencialmente, por carregar um forte viés ideológico.
Características do barroco na literatura:
- • Escrita com excesso de mensagens religiosas;
- • Linguagem e tom pessimistas;
- • Textos com a presença de figuras de linguagem, como metáfora, hipérbole, hipérbato, paradoxos e antíteses;
- • Forma textual (rebuscada e ornamentada) mais trabalhada que seu próprio conteúdo;
- • Poesias marcadas pela instabilidade emocional acompanhada de sentimento de culpa pelos pecados.
Características do barroco na música:
- • Ornamentação musical bem elaborada;
- • Presença de expressões dramáticas, como na ópera;
- • Harmonização entre os vocais e instrumentos musicais;
- • Utilização de notas de mesma duração, porém, com intervalos distintos;
- • Uso do baixo contínuo.
Características do barroco na arquitetura:
- • Monumentos religiosos cheios de curvas e irregularidades;
- • Combinação entre a escultura e pintura;
- • Aversão a formas retilíneas, utilizando colunas curvadas, que dão a ideia de movimento;
- • Obras repletas de extravagância e imponência;
- • Riqueza de detalhes.
Características do barroco na pintura:
- • Representações de passagens bíblicas e histórias mitológicas;
- • Uso de técnicas que dão ideia de profundidade;
- • Forte contraste entre sombra e luz;
- • Acabamentos muito bem trabalhados;
- • Pinturas com expressões sombrias.
Características do barroco como ideologia:
- • Emoção sobrepondo a razão;
- • Resgate de ideias do teocentrismo (Deus como centro do universo);
- • Contestação de conceitos protestantes;
- • Reflexão acerca da guerra entre o certo e errado, o bem e o mal, Deus e Diabo.
Barroco brasileiro
A ideologia da Igreja Católica de converter novos fiéis expandiu o continente europeu e foi exportada também para a América Latina. No Brasil, os conceitos do barroco foram inicialmente praticados pelos Jesuítas, com o objetivo de catequização dos indígenas. Entretanto, ele também foi usado como forma de imposição de poder e ferramenta de exploração. Por o nosso país ser uma colônia de Portugal, naturalmente, o barroco brasileiro sofreu forte influência portuguesa, tendo sua produção artística alavancada principalmente no século XVII, após o descobrimento das minas de ouro e pedras preciosas. Minas Gerais, por ser o estado onde foi encontrado o maior número de jazidas, e o nordeste, por seu desenvolvimento atribuído à cana-de-açúcar, foram as regiões do país mais influenciadas pela arte barroca.
Barroco em Minas Gerais
A Capitania de Minas Gerais, que foi o centro da atividade mineradora no Brasil Colônia, viveu o apogeu das artes no Brasil oitocentista. O chamado barroco mineiro constituiu-se com base em várias influências artísticas, vindas tanto de outras regiões da colônia, como o Rio e Janeiro e Salvador, quanto de Portugal, mas assumiu características próprias, sempre obedecendo à religiosidade imposta pelo movimento. A pinturas e esculturas com temas cristãos fortaleciam a ideia da prática religiosa vigente na sociedade da época. A temática sacra estava presente no barroco mineiro mesmo nos pequenos detalhes.
As cidades do interior mineiro (principalmente Ouro Preto, Diamantina, São João del-Rei e Mariana) eram caracterizadas pela grande presença de ouro, fato que atraía a atenção da coroa portuguesa. Dessa forma, o barroco, nessas cidades, foi o responsável por construir igrejas com esculturas e pinturas banhadas a ouro, com riqueza de detalhes e beleza única. Adereços em ouro e materiais nobres, altares com ornamentos espirais ou florais, figuras de anjos, imagens revestidas com película de ouro, santos em relevo: essas são algumas das características observadas nas construções barrocas mineiras.
Arquitetura
Com uma geografia montanhosa e irregular, a arquitetura barroca mineira desenvolveu um estilo bem peculiar. O terreno repleto de morros e de vales possibilitou uma forma de urbanização atraente. Esse aspecto fez com que os pontos mais altos de cada cidade fossem os mais procurados para a construção dos templos religiosos mais importantes. Assim, a beleza das igrejas se misturavam com a beleza natural da região, criando cenários que ainda hoje fascinam quem conhece as cidades mineiras que foram berço do estilo barroco. A topografia acidentada fez com que os construtores optassem por técnicas adaptadas para a região, abandonando a taipa de pilão, comumente usada em toda a construção civil do período colonial, para adotar a taipa de mão, que faz uso de materiais mais sólidos para sustentação das paredes.
Escultura
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Devido ao isolamento do litoral, o que dificultava a importação de peças portuguesas, a escultura no barroco mineiro também apresentou peculiaridades. Os artistas passaram a utilizar de artifícios, aproveitando os materiais típicos da região como cedro e a pedra-sabão, adaptando-os às necessidades das obras para driblar algumas limitações técnicas e materiais. Desse modo, os escultores da escola mineira não se limitaram a um único princípio estético. Diferente de outras escolas como Bahia e Pernambuco, que estavam muito mais ligadas ao estilo formal da arte europeia, a produção mineira se caracterizou pela diversidade e pelo ecletismo. Nesse sentido, observa-se que a escultura no barroco mineiro apresenta ausência de padrões acadêmicos, variedade de cores mais uniformes e feições mais ingênuas e joviais.
Pintura
Embora haja também uma produção em painéis e telas independentes, as melhores representações da pintura barroca mineira estão nas decorações internas das igrejas. O barroco mineiro também se diferenciou, criando um estilo próprio na pintura. Utilizando-se de cores vivas e tropicais, os pintores mineiros pintaram em suas obras figuras cordiais e irreverentes. A principal característica que distingue a pintura dos templos mineiros dos templos litorâneos é a decoração com pinturas de grandes dimensões. Esse tipo de decoração era possível graças ao uso de um tabuado corrido nos forros, ao contrário dos templos litorâneos que usavam caixotões emoldurados com relevos onde as pinturas eram feitas em seções separadas. A pintura barroca também trouxe uma perspectiva arquitetônica ilusionista, que buscava uma continuidade visual da arquitetura real do templo. Forros, colunas, arcadas, medalhões faziam uma composição sacra com figuras como anjos e santos, rodeando um personagem ou cena principal entre nuvens e halos de glória.
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Música
Até a primeira metade do século XVIII as composições musicais eram escassas. Nesse período, as músicas executadas eram de autoria de compositores portugueses. No entanto, em 1780 houve uma efervescência musical que fez com que Minas Gerais passasse a ter mais músicos que Portugal inteiro. A música mineira deste período pode ser descrita como música na América litúrgica que vigorou até 1904.
Autores do barroco mineiro
Aleijadinho (cujo nome de batismo era Antônio Francisco Lisboa), ao lado de Manuel da Costa Ataíde e Mestre Valentim, formou o principal grupo de artistas do barroco mineiro.
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